sexta-feira, 24 de maio de 2024

A Força do Hálito - Alexandre O'Neill

A força do hálito é como o que tem que ser.

E o que tem que ser tem muita força.


Vai (ou vem) um sujeito, abre a boca e eis que a gente,

que no fundo é sempre a mesma,

desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,

que no fundo é sempre o mesmo.


Sovacos pompeando vinagres e bafios,

não são nada – bah… – em comparação

com certos hálitos que até parece que sobem do coração.


Ai onde transpira agora

o bom sovaco de outrora!


Virilhas colaborando com parêntesis ou cedilhas

são autênticas (e sem hálito!) maravirilhas.

Quando muito alguns pingos nos refegos, nas braguilhas,

amoniacal bafor que suporta sem dor

aquele que está ao rés de tal teor.


Mas o mau hálito é pior que a palavra,

sobretudo se não for da tua lavra.


Da malvada, da cárie ou, meudeus, do infinito,

o mau hálito é sempre, na narina,

como o baudelaireano, desesperado grito

da charogne que apodrecer não queria…


Alexandre O'Neill

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