sexta-feira, 31 de maio de 2024

Carlos Macedo-Lacerda

CARLOS LACERDA

Nasceu a dezanove de Agosto de mil novecentos e quarenta e sete, no Porto, 

freguesia de Massarelos,cidade onde a paixão pelo TEATRO

desde cedo o absorve e onde começa a representar ainda no período

em que frequenta o ensino liceal.

Mais tarde, virá a profissionalizar-se e após alguns anos 

transfere-se para Lisboa, onde fixa residência,

mantendo-se fiel à actividade artística.

Perseguido pelo sonho da vertente que lhe faltava -escrever uma peça,

meteu mãos à obra...

Várias acabariam por ser escritas até que um dia, perante a «pressão»

de alguns amigos, resolveu começar a tirá-las da gaveta.

«QUEM TERIA ESCONDIDO AQUILO?» 

haveria de ser, qual ironia, a primeira a mostrar o perfil.

«OS TRÈS DA MORTE AIRADA» (uma farsa metapsicológica)

é distinguida com uma menção honrosa

no concurso português de dramaturgia de 1994,

promovido pelo Circulo Dramatúrgico e "A Barraca".

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A Força do Hálito - Alexandre O'Neill

A força do hálito é como o que tem que ser.

E o que tem que ser tem muita força.


Vai (ou vem) um sujeito, abre a boca e eis que a gente,

que no fundo é sempre a mesma,

desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,

que no fundo é sempre o mesmo.


Sovacos pompeando vinagres e bafios,

não são nada – bah… – em comparação

com certos hálitos que até parece que sobem do coração.


Ai onde transpira agora

o bom sovaco de outrora!


Virilhas colaborando com parêntesis ou cedilhas

são autênticas (e sem hálito!) maravirilhas.

Quando muito alguns pingos nos refegos, nas braguilhas,

amoniacal bafor que suporta sem dor

aquele que está ao rés de tal teor.


Mas o mau hálito é pior que a palavra,

sobretudo se não for da tua lavra.


Da malvada, da cárie ou, meudeus, do infinito,

o mau hálito é sempre, na narina,

como o baudelaireano, desesperado grito

da charogne que apodrecer não queria…


Alexandre O'Neill

terça-feira, 14 de maio de 2024

Recordação

“Hoje a gente ia fazer vinte e cinco anos de casado”, ele disse, me olhando pelo retrovisor. Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora pra percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio. Aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: “Hoje a gente ia fazer vinte e cinco anos de casado”. Meu espanto não durou muito, pois ele logo emendou: “Nunca vou esquecer: 1o de junho de 1988. A gente se conheceu num barzinho lá em Santos e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás… Fazer o quê, né? Se Deus quis assim…”. Houve um breve silêncio, enquanto ultrapassávamos um caminhão de lixo, e consegui encaixar um “Sinto muito”. “Brigado. No começo foi complicado, agora tô me acostumando. Mas sabe que que é mais difícil? Não ter foto dela.” “Cê não tem nenhuma?” “Não, tenho foto, sim, eu até fiz um álbum, mas não tem foto dela fazendo as coisas dela, entendeu? Tipo: tem ela no casamento da nossa mais velha, toda arrumada. Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. Sabe o jeito que eu mais lembro dela? De avental. Só que toda vez que tinha almoço lá em casa, festa e alguém aparecia com uma câmera na cozinha, ela tirava correndo o avental, ia arrumar o cabelo, até ficar de um jeito que não era ela. Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano mesmo. A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf. Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não? Tá acompanhando? Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na represa de Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?” “Isso.” “Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar onde a gente se conheceu.” “E aí?!” “Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: ‘Entra’. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: ‘É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação’.” Paramos num farol. Ele tirou a carteira do bolso, pegou a foto e me deu: umas cinquenta pessoas pelas mesas, mais umas tantas no balcão. “Olha a data aí no cantinho, embaixo.” “Primeiro de junho de 1988?” “Pois é. Quando eu peguei essa foto e vi a data, nem acreditei, corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não. Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? Vou morrer com essa dúvida. De qualquer forma, taí o testemunho: foi nesse lugar, nesse dia, tá fazendo vinte e cinco anos hoje, hoje, rapaz. Ali do lado da banca, tá bom pra você?”


ANTÓNIO PRATA

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Gemini - Pensando em Ti

 Hoje tive o prazer de ir á loja Louie Louie que fica nas Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira em Lisboa. E comprei um disco que já há muito tempo que eu queria adicionar á minha colecção de raridades! Foi o LP Pensando em Ti dos Gemini.




















Com este disco os Gemini foram a primeira banda portuguesa a receber oficialmente um disco de ouro.  Venderam mais de 130 mil discos num ano. Em 1978, venceram o Festival da Canção e representaram Portugal na Eurovisão com o tema inconfundivel "Dai li do".